Igreja Ortodoxa Patriarcado Ecuménico de Constantinopla
Um verdadeiro amigo
Na procura de novas formas e relações, as estruturas sociais estão a ser desestabilizadas; as inquietações espirituais terminam em cultos de autodestruição e ocorrem desastres naturais sem precedentes em diferentes locais do planeta. Ao nosso redor podemos observar desordem e confusão, assassinatos e devastação; a visão da paz parece não ser desejada e é oprimida. Incerteza, ansiedade, depressão, falta de sentido, inexplicabilidade para o que está a acontecer, a frequente indiferença e muitas vezes até o ódio, estabeleceram-se na alma de muitas pessoas.
Milhões dos nossos semelhantes estão a lutar, tanto moral como fisicamente, e estão presos sob estes destroços naturais, sociais e espirituais; muitos deles incapazes de lidar com esta situação sofrem vários danos psicológicos e físicos. Muitos procuram os culpados e envolvem-se em actos de vingança contra aqueles que, em sua opinião, são responsáveis pelos seus problemas. Outros, incapazes de abordarem os responsáveis, manifestam o seu descontentamento através de actos de terrorismo dirigido a inocentes. Alguns até exploram esta desestabilização e tentam obter lucros à custa dos seus semelhantes. E outros, entrincheirando-se atrás da sua riqueza, ou poder, vivem num mundo particular isolado, não sentindo a dor dos outros, nem dispostos a aliviar a sua dor.
Nós, a Grande Igreja de Cristo, o Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, com a máxima expressão possível de solidariedade e condolência lamentamos a inaceitável perseguição e injustificada execução de todos os cidadãos humildes e obedientes à lei de qualquer nação.
A luta pela paz e democracia nunca pode vir em detrimento da liberdade religiosa e dos direitos humanos.
Os verdadeiros pacificadores da história não só lutaram para reduzir os conflitos entre outros, mas também mostraram compaixão pelas pessoas que os perseguiam. Tal como São Francisco afirma: “Se tens homens que são capazes de excluir qualquer uma das criaturas de Deus do abrigo da compaixão e piedade, então também terás homens que tratarão da mesma forma os seus semelhantes”.
Todos nós aqui reunidos esta noite temos a obrigação de ser pacificadores, de mostrar compaixão por aqueles que foram perseguidos. A apoiar aqueles que nos protegem, de rezar pelos líderes de todos os países que firmemente denunciam a violência, ódio e terrorismo. Se fizermos isto a uma só voz a nossa mensagem será ouvida. E ainda mais importante, se orientarmos pelo exemplo as nossas comunidades e país a mensagem irá prosperar e outros juntar-se-ão ao nosso movimento de solidariedade e paz.
“Um verdadeiro amigo é alguém que aparece quando o resto do mundo desaparece” (São Francisco de Assis). Dirijo-me aos meus caros colegas e líderes religiosos das nossas comunidades e rezo para que “nós” – “eu e tu” sejamos o verdadeiro amigo e que possamos levar esta amizade àqueles que nos foram confiados e partilhar uma abundância de amor e afeição. Para que sejamos verdadeiros exemplos para aqueles que olham para a nossa liderança, não só nos nossos locais de culto ou entre aqueles que ministramos, mas que sejamos também capazes de nos mover no meio de qualquer multidão ou entre aqueles que são menos afortunados que nós e para que com cada fibra do nosso ser sejamos capazes de tocar uma pessoa da maneira mais positiva possível – e mais importante, de uma forma que emane mais amor. Este é o verdadeiro amigo – este é um verdadeiro líder!
Que as bênçãos de nosso Senhor estejam sempre convosco agora e sempre. Amen
Reverendíssimo Arquimandrita Philip Jagnisz
Vigário de Portugal e Galiza
Patriarcado Ecuménico de Constantinopla
Porto, 26de Outubro, 2011