Comunidade Budista do Porto

 

Buda nasceu na Índia há mais de 2500 anos. O seu nome era Siddharta e era príncipe de um reino na fronteira entre os actuais Nepal e Índia. Rico, adulado, rodeado pela harmonia e a beleza, Siddharta ignorava o sofrimento, a velhice, a doença, a morte e a maior parte dos sofrimentos humanos. Quando, por volta dos trinta anos, tomou contacto mais directo com a realidade a sua vida mudou radicalmente.

Trocou a sua vida palaciana e confortável pelo silêncio da floresta, a meditação e o recolhimento. Estudou junto dos mais reputados mestres da época e finalmente, sozinho, atingiu o Despertar, uma mudança radical na sua forma de experimentar o mundo.

O caminho que ele indicou, ele que não se apresentou nem como um profeta, nem como um Deus mas como um simples ser humano, é um caminho de transformação pessoal que pode ser seguido por qualquer pessoa e apresenta-se mais como um conjunto de métodos e não tanto como um conjunto de crenças.

O apreço pela vida – sob todas as suas formas e não apenas a humana – o respeito e a tolerância foram desde o início algumas das características do ensinamento dado pelo Buda e veiculado ao longo destes 2500 anos, em inúmeros países e sob muitas formas. O Budismo apresenta uma grande diversidade nas suas práticas, tendo várias escolas e assumindo aspetos tão diversos entre si como o Budismo Zen e o Budismo Tibetano.

Em Portugal, o Budismo está em pleno crescimento e, embora não haja números oficiais, calcula-se que haja cerca de 15.000 simpatizantes.

Quanto ao que nos reúne aqui hoje, representantes de várias confissões religiosas e igrejas, nada pode ser mais importante no mundo de hoje. Por um lado congratulo-me com um encontro que promove os valores humanos e espirituais num mundo casa vez mais materialista e mercantil e numa época cada vez mais conturbada. A promoção dos valores humanos e dos valores de paz, tolerância e diálogo são um bem realmente essencial e raro nesta sociedade.

Por outro lado, reunir lado a lado representantes de diversas correntes espirituais e religiosas e promover o diálogo no respeito das diferenças e na comunhão de objectivos, parece-me uma iniciativa altamente louvável e muito importante pela qual felicito os seus iniciadores.

Acho importante mencionar que, pelo menos do ponto de vista budista, é importante salientar tanto a igualdade como a diferença entre as diferentes correntes religiosas actualmente presentes no mundo.

De várias formas e usando vários contextos, todas as tradições apelam aos valores essenciais da compaixão, da empatia e da solidariedade, à necessidade da ética e o seu objectivo é sempre ajudar e inspirar a humanidade a elevar-se a uma condição melhor.

Mas, ao contrário de algumas vozes que gostam de afirmar que todas as religiões dizem o mesmo, no budismo não gostamos de negar as diferenças – pelo contrário. Essas diferenças são essenciais para dar resposta às diferentes predisposições dos seres humanos e para que todos possam encontrar as respostas que procuram. Essas diferenças existem – e ainda bem! Compete-nos no entanto a nós, e na medida da influência que possamos ter sobre os outros, enfatizar a importância e a necessidade absoluta do respeito e do apreço pelas outras tradições e pelo papel importantíssimo desempenham e desempenharam ao longo dos séculos no seio da humanidade.

É por isso que saúdo com grande alegria este encontro e a declaração conjunta que todos iremos assinar no final e espero sinceramente que todos possamos contribuir para que cessem os sofrimentos inúteis originados pelas intolerância e a guerra e o mundo se possa tornar um local de mais paz e mais harmonia.

E gostaria de terminar com uma oração budista:

 

Possam todos os seres possuir a felicidade e as suas causas

Possam todos eles estar livres do sofrimento e das suas causas   

Possam todos alcançar a serenidade e a paz últimas

E possam todos não fazer distinção entre amigos e inimigos e amar a todos de igual maneira!

 

Tsering Paldron