Homilia de D. António na celebração pela Unidade dos Cristãos

Celebrção pela Unidade dos Cristãos na Igreja Metodista do Mirante 18-1-2016

Homilia de D. António, bispo do Porto, na celebração pela Unidade dos Cristãos

1. As Igrejas cristãs do Porto reafirmam aqui o desejo de se unirem na oração, na escuta da Palavra de Deus, no debate sereno, na profissão da fé e na procura comum da unidade desejada por Jesus. Acolhemo-nos no dia primeiro do Oitavário de oração pela unidade dos cristãos neste belo templo da Igreja Metodista, no Porto, para rezar, para partilhar a Palavra das Escrituras, para agradecer a vida de Deus em nós e para perceber qual a missão das nossas Igrejas cristãs no mundo.

Este momento de oração e este gesto de encontro são já de si um significativo passo de comunhão fraterna e de procura consistente de caminhos de unidade entre as nossas Igrejas cristãs. Vimos aqui, porque somos todos “chamados a proclamar os feitos do Senhor”, como nos lembra Pedro na sua primeira Carta (1 Pedro 2, 9-10).

Nem sempre é fácil proclamar bem alto os feitos do Senhor por entre as dificuldades e os problemas, com que nos debatemos todos os dias como pessoas, instituições e povos. Nem sempre é nossa voz livre e afirmada em uníssono, quando nos situamos frente a concepções diferentes da vida que recebemos de Deus e da missão que Cristo nos confiou. Como proclamar os altos feitos do Senhor, quando nos encontramos num mundo marcado pelo relativismo e pela indiferença? Como proclamar os altos feitos do Senhor diante de povos inteiros em fuga da sua pátria, vítimas da violência, do ódio e da guerra?

Por isso mesmo, neste contexto em que vive a Humanidade e em que se alicerça a cultura do nosso tempo, torna-se mais necessária a nossa presença conjunta, mais intensa a nossa comunhão fraterna e mais fervorosa a nossa oração comum. Só compreenderemos os altos feitos de Deus se pela oração percebermos que eles são portadores de bênção e de misericórdia divinas.

2. Ajuda-nos na oração pela unidade dos cristãos ao longo destes dias um guião preparado pelos cristãos da Letónia. Remontam ao século XII as primeiras referências ao cristianismo na Letónia, graças à missão evangelizadora de S. Meinhard e de missionários alemães.

A terra letã foi, no percurso dos séculos, campo de batalha, de conflitos e de desentendimentos civis, políticos e religiosos que tiveram consequências nocivas nas divisões sentidas na vida da Igreja local. Chamada hoje a viver como país independente e livre do jugo daqueles que lhe usurparam direitos e liberdades, a Letónia encontra-se atualmente numa encruzilhada de regiões católicas, protestantes e ortodoxas e abriga cristãos de várias tradições.

A sua história guarda a firmeza da fé, mesmo nos momentos mais difíceis e nas horas mais controversas, e revela a alma crente do povo que rezava a favor da liberdade e se unia em oração comum, implorando todos num só hino nacional: “Que Deus abençoe a Letónia”.

Estamos, hoje, também nós, na Europa diante de situações complexas e de desafios delicados. Somos testemunhas de sofrimentos humanos em que a procura de sentido para a vida pessoal, para o bem das famílias, para o convívio entre os próximos e para a paz entre os povos necessita de fé esclarecida e de oração comum.

3. Pedro lembra aos cristãos de Jerusalém que, pela graça de Deus e pela salvação recebida de Jesus Cristo, eles se tornaram povo de Deus. Assim, também nós, pelo batismo, o mesmo e único batismo, na água e no Espírito Santo, somos nação santa, povo eleito, sacerdócio real. O batismo iniciou para cada um de nós este itinerário de fé, consolida diariamente esta experiência de oração e convoca-nos para a missão de anunciar a alegria do evangelho. Nas Escrituras que todos lemos, aprendemos como Deus se ocupou do seu povo e o amou por inteiro, de tal modo que lhe enviou o seu Filho.

Procuremos proclamar esta comum e fundamental certeza de que Deus nos ama e façamos nossa a Palavra de Jesus no Evangelho, que nos diz quem são os bem-aventurados e que nos convida a ser sal da terra e luz do mundo. Procuremos que as bem-aventuranças do reino de Deus se cumpram e se realizem também no nosso tempo e nas diferentes tradições da Igreja (cf. Mt 5, 1-16).

Se assumirmos este belo texto de Mateus 5, onde as bem-aventuranças se proclamam, veremos que todos, independentemente das diferenças das nossas tradições cristãs, podemos e devemos ser mensageiros da alegria do evangelho e dar testemunho fraterno e feliz da nossa fé. Importa vivermos como verdadeiro povo, sentirmos que a hospitalidade é caminho de unidade e fortalecermos dia a dia este belo sonho de que o amor com que Deus nos ama se transforme em fraternidade de crentes e em unidade de cristãos.

4. O Porto tem desenvolvido, através da Comissão Ecuménica, um abençoado esforço de iniciativas e um consistente conjunto de propostas que nos ajudam a rezar em comum e nos convidam a caminhar de olhar colocado no horizonte da unidade. São muitas e belas as ideias que nos mobilizam e as actividades que nos congregam, como é sentida a oração que nos une, manifesta a amizade que nos aproxima e sincero o desejo de unidade que se fortalece entre nós. Demos todos graças a Deus!

Somos, no Porto, habitantes desta Casa comum da humanidade, que Deus nos chamou a cuidar. Somos mensageiros de um Deus, rico em misericórdia, que nos ensina a ser misericordiosos uns com os outros e a proclamar com verdade e com sentido: “felizes os misericordiosos” (Mt 5, 7).

Queremos todos, também, ser sal da terra e luz do mundo como testemunhas credíveis de Cristo e seus discípulos missionários, para que a alegria do evangelho chegue a todas as periferias. (cf. Mt 5, 1-16).

Queremos, finalmente, ser Igrejas de portas abertas para receber os irmãos, os de perto e os de longe, os que vêm para conhecer a nossa cidade apenas por alguns dias, como turistas, e são tantos, ou aqueles que, vindos de outras terras, emigrantes ou refugiados, batem às portas da Europa na procura de terra, de tecto e de trabalho. Todos eles têm direito a encontrar no coração das Igrejas cristãs do Porto abertura e acolhimento, espaço de oração e de silêncio, lugar de contemplação e oportunidade de proximidade com Deus e com os seus irmãos na fé.

“roteiro ecuménico” de oração pela unidade que hoje aqui iniciamos e nos levará a celebrar juntos, ao longo do ano, a mesma fé na vivência das diferentes tradições eclesiais ajudar-nos-á neste propósito e guiar-nos-á neste compromisso em busca da unidade.

5. Há tantos projetos comuns que a nossa oração de hoje pode e deve inspirar e tantos caminhos, há muito já iniciados, que devemos aplanar e percorrer com novo encanto, reafirmado vigor e aumentado entusiasmo.

Importa traduzir a oração comum que hoje nos reúne em acção conjunta que a todos nos envolva, por igual, na busca da unida da Igreja e na construção de um Mundo melhor.

Sintamo-nos também nós abrangidos pelas bem-aventuranças do evangelho, porque também nós queremos ser “misericordiosos como o Pai” e construtores da unidade, da justiça e da paz.

Porto, Igreja Metodista do Mirante,18 de janeiro de 2016

António, Bispo do Porto

Fotos da Celebração pela Unidade dos Cristãos - Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2016